Formação do Advébio

A FORMAÇÃO DO ADVÉRBIO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES RELEVANTES.

 

 

Wolney Jácomo de SOUSA[1],.

 

 

 

1- Introdução

 

O principal objetivo do respectivo trabalho é propor uma análise geral sobre a formação do advérbio, enfatizando desde o seu conceito, a razão, a origem da sua existência, até a formação como devem ser utilizados nas orações que compõem os textos no português.

Adotando a autora Margarida Basílio como base de pesquisa para esta investigação, procurar-se-á formular um conceito de advérbio não muito difundido na grande maioria das gramáticas brasileiras e, tampouco, nos livro didáticos, ou seja, um conceito um tanto quanto mais abrangente, no qual se utiliza três elementos básicos do português conjuntamente: o semântico, o morfológico e o sintático, que passaremos a identificá-los, nesse contexto, como tripé.

Segundo essa linha de raciocínio ou levando-se em conta os três elementos citados anteriormente, buscar-se-á chegar em um resultado plausível quanto ao uso e em quais circunstâncias são aplicados, os advérbios, na Língua Portuguesa.

 

2- Conceitos.

 

Segue-se, logo abaixo, os conceitos de advérbio sob a concepção de diferentes gramaticistas e, em seguida comparar-se-á tais conceitos com a visão de Margarida Basílio, para assim, elaborar uma definição de advérbio em uma nova abordagem, baseando-se no tripé (semântico, morfológico e sintático).

Segundo Cegala (1994) o advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio.

De acordo com Emília Amaral (2003) advérbio é a palavra invariável que modifica o sentido do verbo, acrescentando a ele determinadas circunstâncias: de tempo, de modo, de intensidade, de lugar, entre outros.

Verifica-se que as definições acima citadas correspondem a uma visão estritamente estruturalista, que desconsideram o “tripé”, optando somente pelo aspecto semântico, gerando assim uma compreensão incompleta do conceito de advérbio.

Em detrimento a essa deficiência, os leitores e estudiosos da língua portuguesa não conseguirão obter a clareza necessária para distinguir o que de fato vem a ser a classe dos advérbios, ou qualquer outra classe de palavras.

Tendo em vista a implenitude contida na grande maioria das definições a cerca, não só, do advérbio, propõe-se um novo conceito, de forma a considerar como base, a função dos três elementos citados por Margarida Basílio no intuito de formar uma definição mais precisa e mais abrangente:

Advérbio – É a palavra invariável que modifica os verbos, adjetivos e o próprio advérbio (semântico), e em alguns casos flexiona(m) se em grau (somente) (morfológicos), além de servir de complemento para algumas frases (sintáticas).

Vejamos agora alguns exemplos:

 

Pedro bebe compulsivamente.

João compareceu pontualmente.

 

Observamos, nos exemplos acima que as duas palavras destacadas complementam as ações denotadas das frases.

 

Gisele desfilou linda.

 

Gisele desfilou muito.

 

Gisele desfilou muito linda.

 

Na primeira frase, linda modifica Gisele. Na segunda frase, muito modifica a ação denotada por desfilou. Na terceira frase, linda modifica Gisele, mas muito não modifica a ação do verbo, modifica sim, o advérbio linda.

 

Pedro dirige muito.

 

Pedro dirige muito bem.

 

Na primeira frase, entende-se que muito quantifica a ação indicada na frase e é explicitada pelo verbo. Já na segunda frase, se nos baseássemos no comportamento típico dos adjetivos, por exemplo, concluiríamos que Pedro dirige muito e bem. Mas não é o que acontece com os advérbios. A interpretação correta, da frase, é de que Pedro dirige mais do que bem. O advérbio muito, nesse caso não modifica a ação do verbo, mas sim, o outro advérbio (bem).

 

1- Um lindo balão atravessava o céu.

 

2- Um lindo balão atravessava lentamente o céu.

 

Nesse caso, ocorreu o mesmo processo do exemplo anterior, em que a palavra lentamente (ex. 2), modifica o verbo atravessar, só que ao contrário do outro exemplo, o advérbio denota agora, uma idéia de modo. No entanto, observa-se que atravessar é diferente de atravessar lentamente.

 

3- A platéia vibrou com o espetáculo.

 

4- A platéia vibrou muito com o espetáculo.

 

Mais uma vez, emprega-se uma palavra que serve para modificar o sentido do verbo. O advérbio muito é usado para intensificar o verbo vibrar. Sendo assim, vibrar muito é diferente de vibrar.

Devemos ressaltar que os advérbios de intensidade, possuem uma característica particular. É que além de intensificarem o verbo, eles também podem intensificar os adjetivos e até mesmo os próprios advérbios (observe o exemplo abaixo). Além disso, alguns advérbios poderão modificar uma frase inteira.

Logo, conclui-se que os advérbios complementam as frases, assim como servem para modificar verbos, adjetivos e outros advérbios, confirmando e comprovando que deve-se levar em conta os aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos.

 

3- Classificação do Advérbio

 

Para modificar o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio, é necessário acoplar no advérbio, determinadas circunstâncias, tais como: de tempo, modo, negação, afirmação, dentre outros.

Para esclarecer um pouco mais sobre as circunstâncias empregadas no advérbio, primeiramente analisaremos alguns exemplos e em seguida apresentaremos um quadro-resumo, das principais classificações adverbiais.

 

Exemplos:

 

1- As encomendas chegaram.

 

 2- As encomendas chegaram ontem.

 

Verifica-se com o acréscimo da palavra ontem (Ex.2) ocorreu uma mudança no verbo, ou seja, chegaram ontem é diferente de chegar. Portanto, o vocábulo ontem é um advérbio que dá uma idéia de tempo.

 

3- O amigo de Pedro é inteligente demais.

 

4- Os meninos chegaram muito tarde.

 

5- Certamente as coisas não andam bem por lá.

 

No exemplo 3, o termo em destaque é um advérbio de intensidade que está modificando o adjetivo inteligente.

O segundo termo destacado (frase 4) percebemos que se trata de um advérbio de intensidade modificando um advérbio de tempo.

No terceiro exemplo o advérbio de dúvida altera toda a frase.

Portanto, de acordo com CEGALA (1994), a maioria dos advérbios modificam o verbo, ao qual acrescentam uma circunstância, cabendo somente aos de intensidade, modificarem adjetivos e advérbios.

 

3.1- Locução Adverbial:

 

A locução adverbial nada mais é, que expressões formadas por mais de uma palavra que funcionará como advérbio. Veja o exemplo que segue:

 

Ex: 1. As notícias chegaram cedo.

 

      2. As notícias chegaram de manhã.

 

 

No exemplo 1, visa-se uma única palavra cedo para modificar o verbo chegar, segundo essa palavra a única que designa um advérbio de tempo.

Já no exemplo 2, utiliza-se mais de uma palavra de manhã que também modificará o verbo chegar, sendo esse, ao contrário do primeiro, classificado não como um advérbio de tempo, mas sim, como uma locução adverbial.

 

3- De vez em quando, ouve-se ao longo a latido dos cães.

 

 

Os primeiros termos destacados na oração do exemplo acima, leva-nos a pensar em uma locução adverbial com circunstâncias de tempo.

No segundo termo destacado expressa também uma locução adverbial com circunstâncias de lugar.

 

3.2- Principais circunstâncias do emprego do advérbio:

 

De acordo com as circunstâncias ou a idéia acessória que exprimem, os advérbios e as locuções adverbiais classificam-se conforme o quadro abaixo (CEGALA, 1994):

 

CLASSIFICAÇÕES

PRINCIPAIS

EXEMPLOS

Lugar

Lá, aqui, acima, por fora...

Aqui somos felizes

 

Modo

Bem, mal, assim, devagar...

Ele agiu pacientemente

 

Dúvida

Talvez, possivelmente, acaso...

Talvez ela volte hoje.

 

Negação

Não, de forma alguma...

De modo algum irei lá

 

Afirmação

Sim, certamente, com certeza...

Realmente eles sumiram

 

Intensidade

Muito, demais, tão, pouco, menos...

Nós estudamos muito

Tempo

Agora, hoje, sempre, logo...

Às vezes vou ao clube.

 

                                                                                                                Fonte: AMARAL, 2003.

 

 

 

 

3.3- Advérbios Interrogativos

 

 Conforme CEGALA (1994), existem também, os advérbios interrogativos que subdividem-se em interrogativos diretos e interrogativos indiretos.

Tais advérbios são formados pelas palavras: onde?, aonde?, quando?, como?, por que? Verifica-se os exemplos:

 


INTERROGAÇÃO DIRETA

INTERROGAÇÃO INDIRETA

Como aprendeu?

 

Perguntei como aprendeu

Onde mora?

Indaguei onde morava.

 

Por que choras?

Não sei porque riem.

 

Aonde vai?

Perguntei aonde ia.

 

Donde vens?

Pergunto donde vens.

 

Quando volta?

Pergunto quando voltas.

 

                                                                                                       Fonte: CEGALLA, 1994.

 

 

3.4- Grau do Advérbio

 

Outras características que são atribuídas ao advérbio são os graus do advérbio, que dividem-se em Grau Superlativo e grau Comparativo, vejamos a seguir:

 

a) Grau Superlativo: que divide-se em dois subgrupos: sintético e analítico.

 

Sintético: Acrescenta-se um sufixo ao advérbio, como em: muitíssimo, juntíssimo, pertíssimo, etc.

 

Analítico: O advérbio aparece modificado por outro advérbio, normalmente de intensidade: longe demais, muito longe, tão longe, etc.

 

b) Grau Comparativo: forma-se do mesmo modo que o comparativo do adjetivo:

Superioridade: Acordei mais tarde que você.

Igualdade: Acordei tão tarde quanto você.

Inferioridade: Acordei menos tarde que você.

 

4.0. A Formação de Advérbios por Derivação.

 

            De acordo com as idéias de Margarida Basílio, o advérbio é tido como marginal no processo de formação de palavras, pois, é constitui-se em uma classe que não pode ser derivada. Ou seja, os advérbios são formados geralmente, a partir de adjetivos e, a partir dos advérbios não é possível gerar nenhuma outra classe de palavras.

            Sendo assim, os advérbios que são formados a partir de adjetivos limitam-se a advérbios que têm como função modificar os verbos e, também (às vezes) os enunciados.

            Conforme os estudos de BASÍLIO (ano:pág), o advérbio adquire duas características ou motivações distintas no seu processo de formação, sendo que  uma é complementar da outra:

  • Semântico: É quando se aproveita o material de denotação contido no adjetivo para a formação de um modificador de verbos.
  • Gramatical: Ocorre quando existe uma situação em que a estrutura da língua exige a utilização de uma palavra pertencente à classe dos adjetivos para a formação de um advérbio, havendo aí uma adaptação da palavra através da adição de um sufixo.

 

Exemplos:

 

  1. João se moveu, lento.
  2. João se moveu lentamente.

 

Vejamos que no exemplo 1, “lento” é uma característica atribuída a João, ou seja, um adjetivo. Já no segundo exemplo, “lento” sofre uma modificação, adicionando-se o sufixo mente, passando a ser agora, um modificador do verbo, tornando-se um advérbio. Esse processo dá-se, portanto, através da transformação do adjetivo em advérbio, passando a princípio, por uma motivação semântica que depois irá resultar em uma motivação gramatical.

 

 5.0. Problemas de análise morfológica na derivação de advérbio

 

De acordo com as gramáticas pode-se formar advérbios a partir de adjetivos através da adição do sufixo mente.

Mas de acordo com Margarida Basílio, esse tipo de formação apresenta problemas de ordem fonológica, morfológica e sintática.

 

Fonológico: Possui dois problemas: o primeiro diz respeito à acentuação. Quando ao acréscimo do sufixo mente, a palavra passa a ter dois pontos de maior tonicidade, porém, não leva-se o acento gráfico. Veja os exemplos:

 

1- Péssimo + mente = pessimamente.

 

2- Péssimo +  issmo = pessimismo.

 

Como vemos, os termos em destaque constitui-se nos dois pontos de maior tonicidade.

Ocorre, portanto, uma neutralização na acentuação do adjetivo base em detrimento do acento do sufixo que prevalece.

O segundo problema se dá pelo fato de que as vogais médias abertas (i, o) não passam a médios fechados (i, o) quando se acrescenta o sufixo mente.

Observe os exemplos:

 

1- Certamente, brevemente, supostamente.

 

2- Certeza, brevidade, suposição.

 

Veja aqui, no exemplo 1, as palavras mantêm as vogais médios abertas, enquanto no exemplo 2, as vogais passam a ser médios fechados.

 

Morfolótico: O problema é ocasionado, porque ao adicionar o sufixo mente ao adjetivo, fugirá a regra geral no qual diz que as palavras devem ser derivadas a partir do radical ou base e não de formas já flexionadas. Isso é o que ocorre nas formações em – mente, pois, são construídos a partir da forma feminina do adjetivo:

 

Ex: maravilhoso – maravilhosamente

    

     Franco – francamente

 

Sintático: Verifica-se que há descaracterização do sufixo, que são considerados como formas presas e como o sufixo mente ocorre na última formação, observa-se que mente não possui fixidez.

 

Ex.: Cuidadosa, vagarosa, pertinazmente.

 

Vale ressaltar, no entanto, que esses problemas acontecem somente na estrutura da formação e não na forma gráfica, que não apresenta dificuldades ao adicionar o sufixo mente.

 

6.0. As Diferentes Funções das Formações em Mente.

 

Os advérbios em – mente, não modificam somente os verbos, mas, também podem modificar os enunciados. Veja as modificações que podem acontecer ao acréscimo do sufixo mente nas diferentes situações a seguir:(BASÍLIO, ANO:63)

 

1- Modificação do verbo:

 

Ex: João falou francamente.

 

2- Disposição de espírito do falante sobre o conteúdo do enunciado.

 

Francamente, nunca pensei que você fizesse isso.

 

3- Modificação da expressão que marca o tempo.

 

Ele chegou exatamente às cinco horas.

 

4- Definições do setor de validade da afirmação que se segue:

 

Fonologicamente isso não faz sentido.

 

5- Confirmação de um enunciado anterior:

 

Exatamente, foi isso que eu pensei.

 

 

Portanto, com exceção do primeiro exemplo, em que o advérbio tem como função modificar o verbo, nos outros exemplos, o advérbio exprime uma mudança não do verbo, mas sim, do enunciado.

 

7.0. A Formação de Advérbios por Conversão

 

Nesse caso, o próprio nome nos ajuda a compreender a definição. A conversão se dá quando utilizados um elemento da classe adjetiva para formar um advérbio, sem que haja modificações morfológicas da palavra.

A diferença entre o adjetivo e a palavra “adverbializada” por meio desse processo será a seguinte: os adjetivos diferenciam-se do advérbio pelo fato de que este acompanha o substantivo, ao passo que o advérbio acompanha o verbo, segundo as afirmações de Margarida Basílio.

Vejamos os exemplos:

 

1- João está falando sério.

 

2- João falou grosso.

 

3- O menino cantou desafinado.

 

4- Dá para o carro passar, mas passa apertado.

 

5- O ladrão foi direto ao caixa.

 

Entretanto, para definir a qual classe pertence a palavra em destaque basta observar: se atribuída a qualidade ao substantivo obter-se-á um adjetivo; se essa mesma qualidade for atribuída ao verbo obter-se-á um advérbio. Observemos outros exemplos:

 

1- O menino desafinado cantou – Adjetivo.

 

2- As meninas cantaram desafinado – Advérbio.

 

3- As meninas cantaram desafinadas – Adjetivo.

 

4- Desafinado, o menino cantou – Adjetivo.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

AMARAL, Emília [et. al]. Novas Palavras: Português. Volume Único. Palavras inconfiáveis (cap. 10) p. 424-425. São Paulo: FTD, 2003.

 

BASÍLIO, Margarida. Formação e classe de Palavras no Português no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.

 

CATARINO, Dílson. Gramática Online. Disponível no sítio: www.gramaticaonline.com.br/prof.dilsoncaratino/adverbio,  acessado em 22/10/06, as 14h e 21min..

 

 



[1]  Bacharel em Ciências Econômicas –Universidade do Tocantins – UNITINS (2003), graduando em Letras – União das Faculdades Alfredo Nasser (2006).